Altar das Coroas
Em 2001, Judite Jorge, publicava o livro: “Afectos de Alma” – um verdadeiro “hino de louvor” à abnegada comunidade das Pontas Negras… Baseado na história verídica de Maria Polley – benemérita da construção da Ermida - este foi o primeiro romance de Judite Jorge.
Só lendo se poderá aquilatar da grandeza dessa pequena comunidade, magistralmente narrada pela autora… e aqui vos deixo uns pequenos respigos:
«Uma mulher houve. Maria. Cedo partiu, no princípio do século XX, da ilha do Pico para os Estados Unidos, onde a esperava uma vida árdua e solitária. Em oitenta e quatro anos de vida, só uma vez, por um curto período de férias, voltou aos Açores. Mas isso foi bastante tempo antes de eu nascer, de modo que nunca a conheci. O seu nome, no entanto, baila-me na memória desde os tempos mais remotos. A sua lenda acompanha-me desde sempre como um conto de embalar. Há muito sonhava poder escrever a sua história. Ou melhor, uma história inspirada na sua história.» (da contracapa do livro)
|
Mas, a páginas 110 vejamos a descrição saborosa da sua única visita à terra natal: “O corpo (de Maria Polley) tremeu-lhe à vista muito próxima da ermida. Já a conhecia de fotografias, estava aberta ao culto há mais de oito anos (1950), mas era a primeira vez que a via ao vivo. Agradava-lhe que a tivessem feito naquele alto, ligeiramente sobranceira à estrada. Achou-a muito bem situada, exactamente no centro do lugar, com a frente virada para o sul, para o largo – um semicírculo com um coreto ao meio e quatro plátanos acabados de plantar. Aí se demorou uns instantes a abarcar com os olhos toda aquela vastidão de mar da Ponta do Arrife à Ponta do Morrocão. Como sonhara rever tal vista… Apreciou-a, consolando a alma, e depois sentou-se no muro, outra vez de frente para a ermida. Viu a torre alta, o sino, o relógio de fundo branco. No frontispício, por cima da porta, esta inscrição: Nossa Senhora da Fátima – 1950 (…) está tão bem enquadrada na paisagem e em tal harmonia com tudo que até custa a crer que não tenha estado aqui desde sempre. (…) Tudo muito bem feito, de maneira impecável, e amorosa. Não fui eu que a mandei fazer, talvez tenha sido Nossa Senhora que me deu a ideia. Não fui eu que a fiz, foi José, foi Manuel, foram os mestres, os carpinteiros e os pintores, não sou eu que a mantenho limpa e enfeitada, é Maria José”. (Fim de citação)
|
Domingo passado, a convite dos mordomos Mário e Rosalina, participámos na Festa da irmandade de Espirito Santo das Pontas Negras e tudo o que atrás está descrito e que havia lido há mais de dez anos, acudiu-me à memória…
Festa das Pontas Negras
Numa comunidade atualmente com 62 residentes - restam 14 irmãos (possivelmente alguns emigrados, como o mordomo do próximo ano, que se deslocou por uma semana, propositadamente, à sua terra natal para receber a mordomia) e esses vão-se revezando anualmente - esta festa em louvor do Divino, antes realizava-se entre a Páscoa e o Pentecostes, mas com a necessidade de acolher os emigrantes na festividade, passou para esta altura e toda a comunidade se envolve na ajuda aos mordomos, numa semana mesclada de canseiras e de muitas alegrias.
Que força é esta? “O Espírito Santo é Deus em ação na Terra” será uma das respostas.
Centenas de convivas de toda a ilha ali compareceram: A missa teve a animação musical da Capela de Santa Cruz e a Mordoma Rosalina deliciou-nos no salmo com a sua voz linda, suave e bem timbrada; coroaram crianças e familiares; na procissão com os Foliões da Ribeirinha e a Filarmónica União Ribeirense de Santa Barbara, incorporaram-se muitos devotos do Divino, seguindo-se o jantar servido em três locais (mais de 500 convidados): em duas tendas, no Salão da Irmandade e no Largo em frente da ermida.
Vitral da Ermida das Ontas Negras
Tudo decorreu como o Divino Espirito Santo é merecedor: alegria, abundância e harmonia fraterna… no tal lugar das Pontas Negras, com 62 residentes e que mantem a fé bem viva na sua devoção ao Divino Espirito Santo, honrando as tradições legadas pelos que os precederam na sua Irmandade do Espírito Santo, que só há poucos anos adquiriu “personalidade jurídica”.
Estão de parabéns os mordomos Mário e Rosalina e todos os que com eles colaboraram.
Ermida das Pontas Negras
Voltar para Crónicas e Artigos |